sexta-feira, 29 de junho de 2012

PRA LEMBRAR DA SAUDADE


Deixei a tua mesa do jeito que você deixou. partidas só não me incomodam mais que caixas. acho que não suportaria tantas caixas na sala de uma vez. vai uma e eu fico, vão duas e eu vou junto. eu sou meio que a medida do que dói e do que fica. essa semi-dor é aquela coisa pequena que ninguém vê, mas que palpita primeiro e depois explode. explode quando toca o rádio e quando cai o sol. explode quando o filme é sutil demais e me deixa pensar por onde você anda e por que eu decidi trocar você de lugar. O nosso amor desandou na viagem da casa. e a gente se esquece disso quando bate a saudade.
eu me lembro do bom e do resto. mas a saudade só se lembra do bom. saudade é fotografia viva na minha parede. não mancha nem com o vinho que eu atiro nas noites de loucura. não desbota nem com a fogueira que eu faço quando a loucura me domina. não se esquece nem quando a nota musical grita um lá… quando eu me lembro de você é sempre dó e o violão parece chorar comigo. mas eu entendo. no fundo todo mundo entende e não quer aceitar o clichê. é que não tinha mais como ficar aqui. melhor guardar essa saudade do que viver a falta todo dia. a nossa falta era diária e o diário foi ficando pesado.  e quando eu decidi rasgar as folhas dele, decidi mudar o meu modo de escrever sobre a gente. mudei a minha gramática e as minhas regras de escrita. abandonei as maiúsculas e as nossas reticências vazias de significado. mudei de lápis, te tirei da estante e fechei a porta. mas a tua mesa continua ali, do mesmo jeito. só que com saudade (...)
                                                                       Daniel Bovolento

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